Insistentemente
Digitando e excluindo nesse bloco de notas insistentemente, posicionada frente a uma tela forçando minhas vistas já embaçadas e gastas por motivos óbvios, testando a tolerância de minha coluna vertebral já com meia vida assim como os olhos. Insistentemente por minutos, ou horas, não estou marcando o tempo, e lamentavelmente nada se desenvolve, mesmo que algumas palavras iniciais fluam. No entanto, não progridem. Como se não houvesse nenhuma memória utilizável em minha massa cinzenta que aparentemente se encontra vazia e sem vida, nenhuma lembrança boa ou ruim, tampouco planos, sonhos ou esperanças, contudo, continuo aqui insistindo no ofício e exercício como aprendiz de escritora que sou. Como nada floresce em minha mente para que eu registre e sirva de reflexão ou referencia através das experiências vividas, numa possível comparação de períodos entre oscilações de humor, comportamento e quem sabe até mudança de hábitos e ambiente, quando meu eu do futuro surgir remexendo, bisbilhotando e questionando meu eu do passado, o que é comum acontecer. E assim sentimentos de indignação e defesa de meu ego insuportável que não pode ser contrariado, nem por ele mesmo, eu sei que é estranho isso, mas é a única forma que consigo explicar o que me ocorre mentalmente nesse momento de ausência total de senso de ridículo e responsabilidade dos próprios pensamentos, entretanto ser escritor dá certa liberdade para contrariar as regras e desafiar os limites e princípios, existe uma licença pra isso. Bom pelo menos eu acho que sim, não estou certa disso e decididamente não tenho a menor intenção de confirmar esta afirmação, apenas ocorreu-me no momento, não sei se li em algum lugar ou inventei para desarranjar esse texto que já está bastante confuso, até pra mim. Não sei ao certo que estilo de escritora sou eu, mas também não sei nem que tipo de pessoa sou eu, talvez eu seja fragmentada, como já suspeito há anos. Costumo brincar que nem se desenterrassem Freud e o próprio me analisasse em período integral até que morra novamente, teria uma resposta pra isso, imagine eu.Pois bem, apesar de tudo, de todo fracasso em criar algo, insistirei em formular o que “penso e o que sinto”, como já disse anteriormente, usando o benefício poético onde cita que posso mentir e mentir e inventar é criar, é apenas arte. Como se fosse resolver alguma coisa esse pretexto,deixarei claro que gostaria de não fazer isso, entrar em desacordo com meus desejos contrariando minha sensatez e pouca lucidez momentânea. Como percebe-se comecei enredar esse momento, e surpreendentemente está dando certo, pois já deu um solavanco em meu juízo, mas claro que ainda não tenho nenhuma inspiração para poemas, já que um safanão não serve pra isso e se eu escrever um conto certamente não teria intenção e muito menos desejo de ler, nem interessante para publicar e provavelmente tentarei refazê-lo imediatamente ao retomar o equilíbrio, melhor nem começar. Só que algo insiste e me impulsiona, me obriga a escrever, devido a outras experiências passadas que tive o mesmo problema que provavelmente está registrado em algum lugar. Continuo já que uma sensação febril na cabeça que só cessa com palavras sendo debulhadas a minha frente, é sempre assim, com certeza esse será um daqueles textos que a princípio não entenderei porque gastei tempo tentando escrever e não desisti de me expressar, seja lá como for, sou uma escritora e isso quer dizer que sou pensadora e nada vem de graça, merece esforço e dedicação.Pois bem, tenho um sentimento muito confuso que me rodeia agora, como se fosse novidade confusão em minha mente. Apesar de não parecer ruim, está incompleto e não estou entendendo porque brotou e não se desenvolve, está estagnado. Entretanto não se trata de alguém que eu me lembre ou algo que aconteceu, é só um sentimento estacionado me incomodando, talvez já esteja recuando, sinto que está sem vida como se fosse uma rosa que nasce começa a destacar-se e covardemente é colhida, tirada, não chega a se desenvolver completamente, murcha, seca e morre. Pereceu porque foi cortada, até durou alguns dias por receber alguns cuidados ou simplesmente pela resistência de sua natureza, mas sucumbiu, não por vontade própria, mas por ter sido cortada, simplesmente desassociada de seu sustento, posteriormente usada por um tempo, contemplada, elogiada, no entanto, acabou o perfume, o brilho e por fim seu tempo venceu, sem alimento, pereceu.Ocorreu-me outra metáfora a respeito desse sentimento. Um cometa me parece bem semelhante, mesmo que eu seja totalmente leiga sobre o assunto, arriscarei. Suponhamos que um corpo celeste tenha sido identificado pelos astrônomos e de alguma forma a informação vazou e a imprensa impulsionou rapidamente a novidade aos quatro cantos do planeta, afirmavam com certeza nas notícias que o mesmo poderia ser observado, mesmo que esteja bem longe da órbita terrestre, há bilhões de quilômetros. Mesmo sendo duvidosa a notícia de sua existência, sua aproximação e possível visibilidade causam excitação, euforia e muitas expectativas. Mas de repente ao invés de se aproximar da terra como foi anunciado e era esperado, informaram que o objeto mudou seu curso por algum motivo e se foi, seguiu seu rumo. Só restaram rumores sobre ele, quem sabe até pôde ser visto de longe em segredo, mas acabou, ficaram lembranças da bagunça que causou, dos anúncios e diversas matérias sobre a passagem do tal astro, constrangimento por aqueles dias que esperamos ansiosos sua vinda, mas ele se foi, era só um boato, sem comprovação aparente, só comoção, especulação, manipulação e ilusão.A rosa também se foi, pois foi cortada, pereceu sem alimento. E o cometa se era real, passou longe!Não é sobre rosa ou cometa a narrativa.Sobre sentimentos que nascem mortos, sentimentos que nascem e logo morrem, sentimentos que anunciam, fantasiam, mas não chegam a existir.
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