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Mostrando postagens de novembro, 2024

Revolta e gratidão

  Sei que esse assunto tem se tornado repetitivo, mas ainda assim sinto a urgência de falar sobre ele sempre que surge a vontade ou a necessidade. Expressar-me a respeito ainda me causa dor, mas, ao mesmo tempo, há um contentamento ao concluir cada texto, frequentemente acompanhada de um alívio. As palavras que saem do meu coração carregadas de angustia, revolta, gratidão e contentamento, embora dolorosas, me trazem certo reconforto. Normalmente, quando perdemos alguém que amamos, seja porque esta pessoa partiu pra sempre, faleceu, ou de outra forma se foi, é comum começarmos a nos questionar sobre o tempo desperdiçado, por não termos aproveitado mais a presença desse ente querido enquanto ele ainda estava entre nós. Isso aconteceu comigo e ainda acontece, sempre que me pego refletindo sobre a perda do meu pai. Culpo-me e arrependo-me repetidamente por não ter valorizado mais o tempo em que ele esteve conosco. Sou profundamente grata por ter tido a sorte de ter um pai como el...

Sem medo

  Não me surpreende mais que coisas simples do meu cotidiano frequentemente me tragam reflexões profundas. Nem sempre registro tais aprendizados e, às vezes, até esqueço. Mas algo aconteceu e não posso simplesmente ignorar. Por isso, estou aqui, nessa tarde chuvosa de um domingo de novembro, com meu coração saltando de alegria por ter a grandiosa oportunidade de participar da criação dos meus netos, dentro da parte que me cabe, sem ultrapassar barreiras que pertencem aos pais. E isso é o que torna a relação entre avós e netos tão especial. Dito isso, posso afirmar que a aprendizagem é mútua, tanto eles aprendem comigo, como eu aprendo com eles. Confesso, com toda sinceridade da minha alma: eles são a melhor parte da minha vida. Tenho refletido bastante sobre um momento que, instantaneamente, reconheci como uma grande lição de vida. Meu netinho caçula adora iogurte e, sempre que vou pegar na geladeira, ele me acompanha para escolher pessoalmente o sabor. Pois bem, nesse dia em espec...

Resiliência bipolar

Graduada em surtos e superações, aprendi em meio a crises existenciais constantes, polos imprevisivelmente alternados e conflitos externos e internos, que tudo vêm e vai, sem jamais permanecer para sempre. Adaptando-me às perdas, me refazendo com o que fica, vivendo um dia de cada vez, escrevendo minha história com canetas de várias cores. Entendo que não sou dona dos próximos capítulos, nem posso garantir que virão. Mas, se vierem a existir, sei que nem tudo dará certo. Ainda sim, terei elasticidade suficiente para me adaptar a cada situação, lugar e pessoa, enquanto encontro e me despeço. Certamente esperança e desanimo, fé e descrença fazem parte dessa construção, desse barro complexo que sou, ora ressecado, ora excessivamente molhado.

Missão

  Até te conhecer não desejava esta missão. Oferecer afeto, Intimidade, afeição. Quando conquistava, deixava ir aos poucos, sem dignidade, sentimento ou confiança. Causando desnecessária dor, sentindo dor, sendo a dor.   Inevitavelmente a roda da vida gira e ora ou outra nos leva à parte mais baixa. Envergonhada, igualei-me aos que atirei do alto. Ao se aproximar desejei ter, cuidar, zelar como jamais quis, e me entregar, amar.  Estar lá, não por paixão ou obrigação, mas por desejo.   Uma necessidade de ser. Um capricho seu, um prazer meu e assim ser, apenas sermos eu e você. Querer encantar-te, sem temores entregar-me, querer ser responsável, não só pelo meu, mas, por nossos sentimentos.  Querer ter e dar o que sempre tive e jamais doei.   Inteiramente ser, completamente me envolver. Tratava-se de uma bela e convincente atuação. Deboche seu, engano meu, convencimento seu, devaneio meu.  Por te conhecer, não espero o...

Apenas continuar

  Ah, se eu tivesse aprendido a viver enquanto só estava existindo. Ah, se eu tivesse aprendido a escolher enquanto só estava me aventurando. Ah, se eu tivesse aprendido seguir em frente enquanto só estava remoendo os traumas. Ah, se eu tivesse aprendido que lamentar o passado é mais doloroso que recomeçar.   Ah, se eu tivesse, se eu soubesse, se eu aprendesse, não teria chegado até aqui com todas as bênçãos, experiências e lembranças que tenho. Ah, se eu não fosse grata, acabaria esse texto me lamentando por tudo que vivi, mas agradeço por ter chegado até aqui.   Só recentemente aprendi que ao contrário do que já mencionei aqui e ali, "quem me abraçou diversas vezes não foi a morte", em vez disso, a vida me acolheu e me deu várias oportunidades para continuar, tentar novamente, sem cobrar ou pedir  garantias, me permitindo por várias vezes apenas continuar.